
Veja, boa
moça, ninguém nunca esteve em seu lugar. Quando fomos apresentadas em
conferência e você questionou isso, e meu nome ressoou, perceba: era só para te
representar. Uma cópia barata é o que tenho sido de ti até aqui, guiada por ti,
que acabou, com toda sua benevolência, cedendo mais que conhecimento técnico.
Estavam lá sua hospitalidade, seus ouvidos, seus braços e sua amizade. E um
pouco mais... esse pouco foi tanto... e ainda assim tão pouco... por um tempo
tão curto. Juro, moça, queria que ainda estivesse em seu lugar, comigo ao seu
lado.
Sinto sua
falta, moça. Não há momento que eu não pense: “Queria estar ali de novo”. Tenho
um desejo imenso de estar, moça... não pelo lugar, que é maravilhoso, sim, mas
principalmente porque é onde você está.
Este na
verdade é o relato de uma moça calorosa em uma terra calorosa. Uma
retrospectiva, para uma nova despedida. Quero registrar você aqui como
aconteceu. Algo vago e desconexo. É porque estou escrevendo para mim, por mim,
apesar de me direcionar a ti, moça.
Estou
longe, vejo uma face nova, de alguém que não tinha avistado até então. Acabara
de chegar, sim. Estava falando com outras moças, me perguntei se essa era
aquela que me instruiu e conversou um tico comigo pelo chat... só pude
confirmar quando ela acenou alegremente para mim. Bom, não notei de primeira,
pois não sabia se estava falando com outra pessoa (e também que sou míope e
talvez seus olhos nem estivessem direcionados a mim), mas quando ela
insistiu percebi que estava sendo grossa em simplesmente deixa-la no vácuo como
se fosse uma boba acenando para o nada. Acenei de volta, não com a mesma
exaltação, sou tímida. Eu estava vendo um assunto que caiu de paraquedas, como
todos os outros. Não pude dar foco e estava com a mente alterada pelos
acontecimentos. Mesmo assim, me perguntei se ela só me cumprimentaria de
longe.... Olhei a figura de frente com seu computador, voltei para o meu, e eis
que me surge ela, a moça, ao meu lado. Me cumprimentou e os demais, porém eu
quis acreditar que ela estava ali por mim, mesmo que se por educação teria
cumprimentado os outros de qualquer maneira.
Conversamos
pelo celular, no aplicativo de chat, falamos diversos temas, contei que estava
com saudade de minha bichana, ela me convidou para ver os bichanos na casa de
sua mãe após eu dizer que ver qualquer bichinho amenizaria o sentimento (ela
convidou depois que induzi falando que seria bom vê-los). Estava carente de
bichinhos.
Eu pensei
que teria mais tempo com ela antes disso, mas não foi assim. Uma tristeza! Queria
ter aproveitado o máximo possível com ela.
Aproximadamente
dois dias depois ela me buscou com sua mãe, fomos até lá... de precedente estava
receosa, mas, foi incrível, a partir do momento que a vi de novo ali, pela
segunda vez, de pé me esperando em frente ao seu carro e com os seus óculos
escuros, uma aurora boreal iluminou minha visão e qualquer que fosse o
sentimento que estava me limitando a quase desistir daquele passeio, foi
expulso, e então vi seu sorriso. Nada estava claro para mim até ali, era só um
gesto legal, um passeio descontraído.
Fomos lá,
encontrei os dois bichanos lindos, sua mulher estava presente também.
Brincamos, eu e a moça, no quintal com os bichanos, um deles era mais
preguiçoso, o outro “voava” na parede com o brinquedinho. A vizinha tinha feito
pão de queijo, um esquema que elas tinham, algo como a moça/mãe da moça comprar
os ingredientes e a vizinha fazer. Algo assim. A moça estava na parede falando,
minha mão estava na parede querendo estar nela, na moça. Definitivamente,
estava atraída, mas até aí se supera, não?! Só conseguia ouvi-la, sem muito a
dizer. Comemos pão de queijo, estava bom. Falamos mais um pouco, brinquei um
pouco mais com os bichanos. Até tentei a sorte de segurar um deles no colo como
seguro minha bichana, mas fui rejeitada. Era o esperado, porém nunca se sabe,
né?! Já vi essa história.... A moça viu e achou graça. Foi engraçado
mesmo.
Fomos
passear pela cidade, eu, a moça e sua mulher, que foi cordial comigo, estava
até abrindo a porta do carro para mim! Toque intelectual, se notava. A moça se
fez de “a ciumenta”, mas devia ser brincadeira, acho.... Paramos em
determinados pontos, falamos de um eventual passeio onde poderíamos entrar no
mar no entardecer... tomar um sorvete local famoso. Caminhamos na calçada ao
lado da praia e os muitos barcos, uma visão incrível de noite. Paramos perto de
um quiosque, eu e a moça sentamos de frente uma para outra numas pedras que era
a divisória da praia e a rua, em um lugar relativamente alto, com pedras
pontiagudas lá embaixo. Até fizemos piadinhas com as manchetes imaginando que ela
teria me jogado de lá se me odiasse por eu estar “roubando o emprego
dela". Chegou a hora que a moça estava no meio, segurando a mão de sua
mulher, e colocou o braço envolta dos meus ombros, o meu braço foi na sua
cintura. Espontânea (ela), eu acho. Sua mulher se afastou, eu me afastei depois
de segundos, não queria ser inconveniente, mas por mim passaria a noite ali com
ela. Fomos embora.
Moça,
depois foi a hora de fazer suspense, estava gostando de alguém... e era de
você, você sabia, só precisava ter certeza. Mas, moça, eu nunca quis atrapalhar
o seu casamento, por isso quando declarei não conseguir parar de pensar em você
e toda a falta que você estava me fazendo, a ansiedade por uma simples mensagem
sua (talvez eu não tenha dito essa parte explicitamente, mas estou dizendo
agora), sugeri também que estava tudo bem se você quisesse não falar mais
comigo. E eu não poderia mentir sobre quem estava gostando (não me perdoaria),
você insistiu... porém para mim o ponto crucial disso teria sido você me
afastar quando assumi ter aqueles sentimentos. Sim... tudo bem, agora já foi.
(Março de 2019. Thais Poentes)
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